quarta-feira, 7 de outubro de 2020

IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS

 

Imagem vem do hebraico “sélem” e do grego “eikõn”, e semelhança, do hebraico “de-müt”.

Há uma série de palavras em uso, as quais comportam mais de um sentido, expressam pensamentos diversos e representam objetos diferentes. A palavra imagem tanto pode representar um quadro ou uma figura abstrata como também pode referir-se a um desenho, a uma escultura, a uma estampa, ou a qualquer objeto reproduzido através da luz ou da sombra.

Na Antiguidade havia a idéia de que o homem foi criado segundo a imagem de algum deus, particularmente entre os babilônios. As expressões imagem e semelhança que aparecem em Gênesis 1.26,27; 5.1; 9.6 têm o mesmo sentido: o seu significado é que o homem tem a semelhança com Deus, não se tratando de uma semelhança natural e uma imagem sobrenatural. O homem é parecido com Deus assim como o filho com seu pai, porque recebeu do seu Criador algo divino. O homem, como imagem de Deus, representa Deus entre as demais criaturas. O homem é como um rei constituído por Deus para reinar sobre as demais criaturas (Gn 1.28; Sl 8.7). Mais tarde do que o tempo em que o Pentateuco foi escrito, desenvolveu-se o conceito de que a semelhança com Deus estava relacionada com a imortalidade, para a qual Deus criou o homem, e que o homem perdeu na queda.

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26). Pode ser que alguém, ao ler essa declaração, julgue-se tão importante quanto o próprio Criador. Uma vez que é feito à sua imagem, conforme à sua semelhança, poderá orgulhar-se de sua origem. Antes que tal coisa aconteça, convém saber que a semelhança de alguma coisa nunca foi, não é, nem será igual ao original. Anotem bem o sentido da palavra semelhança que quer dizer parecença, imitação, analogia, na ordem física ou moral, mas não significa que é igual ao objeto a que se assemelha. Essa restrição que se interpõe entre o objeto legítimo e original e o objeto semelhante não é levantada pelo Criador. Por outro lado, a atitude do ser criado, em razão da liberdade de pensar e de agir que recebeu do Criador, o livre arbítrio com que foi dotado por Deus para que escolhesse livremente, e não como um autômato, fez com que a semelhança perdesse o brilho e se transformasse em imagem moralmente manchada, prejudicada pela ausência da inocência e da santidade que deveria possuir.

Apesar da queda e da catástrofe moral que a desobediência provocou na vida do homem, apesar de possuir a figura manchada pelo pecado, contudo, o homem, por bondade divina, continua a exibir-se como imagem de Deus, que um dia será restaurada ao estado de santidade e de glória em que foi criado.

No Novo Testamento, a imagem sempre significa a representação de um objeto ou de uma pessoa; a lei mosaica é apenas a sombra e não a imagem das coisas vindouras (Hb 10.1). O apóstolo Paulo assim se expressou quanto à imagem que o homem é de Deus: “o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem” (1 Co 11.7); o homem, criado imediatamente por Deus, representa e reflete a glória do Criador. O primeiro homem foi feito do pó da terra e por isso é terrestre e não celeste, como é o segundo Adão, Jesus Cristo (1 Co 15.47). Assim, o cristão é “predestinado para se tornar semelhante à imagem do Filho de Deus” (Rm 8.29); para que possa alcançar uma perfeita semelhança com o Cristo glorificado, deve “trazer a imagem do homem celeste” (1 Co 15.49), representar e realizar no corpo e na alma o Cristo glorificado. O cristão, segundo a carne, é a imagem do Adão terrestre, e deve ser transformado inteiramente para alcançar o estado do segundo Adão, que é a imagem perfeita de Deus (2 Co 4.4; Cl 1.15). A razão de o Cristo ser a imagem de Deus e o representante perfeito de seu Pai entre os homens é porque Ele é o Filho de Deus (Jo 1.14,18; 12.45; 14.19; Hb 1.3).

Até aqui focalizamos a palavra imagem no sentido moral e espiritual. A palavra, entretanto, tem uma interpretação de ordem material, isto é, imagem, em linguagem popular, é uma estátua, um desenho, uma estampa, representando, de modo geral, um motivo religioso.

Convém conhecer o que as Escrituras declaram acerca de imagens como objetos dedicados ao culto religioso. Deus foi muito claro acerca desse assunto, quando entregou a Moisés os Dez Mandamentos que deveríam orientar a vida moral e religiosa do povo de Israel. Sempre é bom ler o que está escrito; é bom consultar a Bíblia: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou da terra do Egito, da casa de servidão. Não terás outros deuses diante de mim.

Não farás para ti imagens de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra” (Êx 20.2-4). Como se vê, o Senhor proibiu, de modo muito claro, que o seu povo desviasse a atenção do verdadeiro Deus para objetos inanimados, para que não considerasse o Deus vivo e verdadeiro igual a uma simples figura. A razão da inclusão dessa proibição nos Dez Mandamentos era, sem dúvida, para que o povo de Israel não se nivelasse espiritualmente com os povos pagãos, que faziam e adoravam deuses que não podiam ver, nem ouvir, nem ajudar a ninguém (Dt 4.15-19).

Os Dez Mandamentos são o conjunto mais perfeito de lei que se conhece. O decálogo tem servido de modelo para as constituições de vários países.

Convém saber que Deus não proibiu a fabricação de estátuas, colunas ou monumentos em que a arquitetura apresenta a habilidade do escultor ou do arquiteto. A arte, a beleza e a inspiração sempre tiveram a apresentação divina. O que se lê nos Dez Mandamentos é a proibição de se fazer imagens para serem adoradas ou cultuadas. As obras de arte que povoam os parques e jardins são peças ornamentais que deleitam o espírito e alegram os sentimentos artísticos. Os quadros que figuram nos museus educam e ensinam a amar a perfeição e o belo. Convém lembrar que beleza, perfeição e nobreza são qualidades que Deus deseja ver em todas as vidas. Assim sendo, convém não confundir a arte, a beleza e a inspiração criativa com a proibição expressa nos Dez Mandamentos.

Quando Deus ordenou a Moisés que construísse o Tabernáculo, isto é, o templo da peregrinação no deserto, o mesmo Senhor outorgou inspiração artística a dois homens -chamados Bezaleel e Aoliabe, aos quais encheu de sabedoria, entendimento e ciência em todo o artifício para inventar em invenções para trabalharem em ouro, e em prata, e em cobre, e em artifício de pedras de engastar (Êx 35.31-33). O que os leitores acabam de ler demonstra que Deus ama a arte e os artistas e Ele mesmo dá inspiração para produzir o que realmente é bom e belo. Mas Deus não consente que se adorem as obras humanas nem que a elas se preste culto.

Ainda para completar a explicação acerca de imagens e suas finalidades e da arte ornamental e educativa, Deus ordenou aos artesãos que Ele chamara e inspirara que, além das obras de madeira talhada, dos bordados de linho colorido, dos varais cobertos de ouro, além de tudo isso, e para completar a ornamentação do Tabernáculo, ordenou que se fizessem dois querubins, isto é, obra feita à mão, perfeita, como tudo que vem de Deus.

sábado, 3 de outubro de 2020

Documentário : Entenda a Reforma Protestante

 


Documentário: Herrnhuter e o Avivamento Moraviano


 

A História dos Jovens Missionários Moravianos

 


OS MORAVIANOS SE VENDERAM COMO ESCRAVOS PARA LIBERTAREM VIDAS PARA DEUS!

Iniciado em Hernhut, Alemanha no século 18, o movimento de oração continua (24 horas) chamado Moravianos durou por quase 100 anos, e eles não oravam por aquilo que não estavam dispostos a ser a resposta.

Dois jovens Moravianos, de 20 anos ouviram sobre uma ilha no Leste da Índia cujo dono era um Britânico agricultor e ateu, este tinha tomado das florestas da África mais de 2000 pessoas e feito delas seus escravos, essas pessoas iriam viver e morrer sem nunca ouvirem falar de Cristo.
Esses jovens fizeram contato com o dono da ilha e perguntaram se poderiam ir para lá como missionários, a resposta do dono foi imediata: ” Nenhum pregador e nenhum clérico chegaria a essa ilha para falar sobre essa coisa sem sentido”. Então eles voltaram a orar e fizeram uma nova proposta: “E se fossemos a sua ilha como seus escravos para sempre?”, o homem disse que aceitaria, mas não pagaria nem mesmo o transporte deles. Então os jovens usaram o valor de sua própria venda para custear sua viagem.
No dia que estavam no porto se despedindo do grupo de oração e de suas famílias o choro de todos era intenso, pois sabiam que nunca mais veriam aqueles irmãos tão queridos, quando o navio tomou certa distância eles dois se abraçaram e gritaram suas ultimas palavras que foram ouvidas:

QUE O CORDEIRO QUE FOI IMOLADO RECEBA A RECOMPENSA DO SEU SOFRIMENTO“.

Estou convencido que não devo orar se não estou disposto a ser resposta pelo o que estou orando. “… Deus é poderoso pra fazer muito mais…. de acordo com Seu poder que opera em nós” (Ef. 3:20)

sábado, 26 de setembro de 2020

Entendendo Jesus Segundo o Novo Testamento - Parte III

 

Logos

João 1.1 apresenta Cristo mediante o termo grego logos, que significa "palavra", "demonstração", "mensagem", "de­claração" ou "o ato da fala". Mas Oscar Cullman aponta a importância de se reconhecer que, em João 1, logos tem um significado específico: é descrito como uma hypostasis (Hb 1.3), uma existência distinta e pessoal de um ser real e específico.29 João 1.1 demonstra que "o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" são duas expressões simultanea­mente verídicas.30 Isto significa jamais ter havido um período em que o Logos não existisse juntamente com o Pai.31

João passa, então, a demonstrar o Verbo atuante na criação. Gênesis 1.1 nos ensina que Deus criou o mundo. João 1.3 especifica que o Senhor Jesus Cristo, no seu estado pré-encarnado, fez a obra da criação, executando a vontade e o propósito do Pai.

Descobrimos também que é no Verbo que a vida se encontra. João 1.4 diz: "Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens". Porque Jesus é o referencial da vida, o único lugar onde ela pode ser conquistada. E aqui se descreve a existência de uma qualidade de vida: a vida eterna. Esta espécie de vida está disponível em Deus, pelo seu poder vivificante através do Verbo vivo. Somente obtemos a vida eterna como a vida de Cristo em nós.

O fato de não ter o mundo compreendido o Logos, indi­ca-o João 1.5: "A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam". Na continuação, João Batista aparece como testemunha enviada daquela Luz. Mas queremos foca­lizar a nossa atenção neste ponto: "Ali estava a luz verdadei­ra, que alumia a todo homem que vem ao mundo, estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não o conhe­ceu" (1.9,10). O Criador do mundo, a segunda Pessoa da Trindade, Deus Filho, estava aqui no mundo, mas este não o reconheceu. O versículo seguinte é mais específico: "Veio para o que era seu [seu próprio lugar, a Terra que criara], e os seus [seu próprio povo, Israel] não o receberam" (1.11).

Os herdeiros da aliança, os descendentes físicos de Abraão, não o receberam. Este tema é destaque e percorre todo o Evangelho de João: a rejeição de Jesus. Quando Jesus prega­va, alguns judeus zombavam. Quando Jesus disse: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se", os judeus, na sua incredulidade, retrucaram: "Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?" Então Jesus declarou: "Antes que Abraão existisse, eu sou" (Jo 8.57,58). O tempo presente do verbo, "sou", indica existência linear. Antes que Abraão fosse, o Filho já é.

Embora muitos rejeitassem a mensagem, alguns nasce­ram de Deus. Em João 1.12 lemos: "Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome". Em outras palavras, Jesus estava redefinindo toda a realidade de alguém tornar-se filho de Deus. Até aquele momento, a pessoa precisava nascer especificamente no povo de Israel, chamado segundo a ali­ança (ou pelo menos afiliar-se a ele), para ter aquela oportu­nidade. João, porém, enfatiza que a mensagem espiritual, o Evangelho poderoso, chegara às pessoas, e que elas haviam recebido Jesus, o Logos. Recebê-lo importava em obter o direito ou autoridade de se tornar filho de Deus. Alguns dos que o receberam eram judeus, e outros eram gentios. Jesus derrubou o muro divisório e franqueou a salvação a todos os que desejassem chegar a Ele e recebê-lo pela fé (1.13).

A verdade essencial a respeito do Logos ora descrito, vê-se em João 1.14: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós". Aqui o termo logos é aproveitado para descrever Jesus Cris­to, mas a realidade da sua Pessoa vai além do que abrange o sentido secular do conceito. Para os antigos gregos devota­dos à filosofia, um logos feito carne seria uma impossibilida­de. Por outro lado, para os que crerem no Filho de Deus, um logos na carne é a chave para se entender a encarnação. E é exatamente isto que a encarnação significa: o Logos preexistente tomou sobre si a carne humana e andou entre nós.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA STANLEY M. HORTON

A Santíssima Trindade - Parte III

 

Evidências Bíblicas para a Doutrina

O Novo Testamento

João começa o prólogo do seu Evangelho com a revela­ção do Verbo:  "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (Jo 1.1). B. F. Westcott observa que, aqui, João leva nossos pensamentos para além do começo da Criação, no tempo, para a eternidade.12 O verbo "era" (gr. en, pretérito imperfeito de eimi, "ser") apa­rece três vezes nesse versículo e, mediante todo o versículo, o apóstolo transmite a idéia de que nem Deus, nem o Verbo (gr. Logos), tem começo; sempre existiram em conjunto, e assim continua.13

A segunda parte do versículo continua: "E o Verbo esta­va com Deus [pros ton theon]". O Logos existe com Deus, em perfeita comunhão, por toda a eternidade. A palavra pros (com) revela o relacionamento "face a face" que o Pai e o Filho sempre compartilharam.14 A frase final de João é uma declaração nítida da divindade do Verbo: "E o Verbo era Deus".15

João continua a revelar-nos que o Verbo entrou na His­tória (1.14) como Jesus de Nazaré, sendo Ele mesmo "o Único Deus, que está ao lado do Pai".16 E o Verbo tornou o Pai conhecido (1.18). O Novo Testamento revela, ainda que, pelo fato de Jesus Cristo ter compartilhado da glória de Deus desde toda a eternidade (Jo 17.5), Ele é objeto da adoração reservada somente a Deus: "Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus" (Fp 2.10,11; ver também Ex 20.3; Is 45.23; Hb 1.8).

Foi através do Verbo eterno, Jesus Cristo, que Deus Pai criou todas as coisas (Jo 1.3; Ap 3.14).17 Jesus se identifica como o soberano "Eu sou" (Jo 8.58; cf. Êx 3.14).18 Em João 8.59, os judeus sentiram-se impulsionados a pegar em pedras para matar a Jesus em virtude dessa refyindicação. Tentaram fazer a mesma coisa mais tarde depois de haver Ele declarado em João 10.30: "Eu e o Pai somos um". Os judeus que o escutaram consideraram-no blasfemo: "Sendo tu homem, te, fazes Deus a ti mesmo" (Jo 10.33; cf. Jo 5.18).

Paulo identifica Jesus como o Deus que provê todas as coisas: "Ele é antes de todas a coisas, e todas as coisas subsistem por ele" (Cl 1.17). Jesus é o "Deus Forte" que reinará como Rei no trono de Davi, e o tornará eterno (Is 9.6,7). Seu conhecimento é perfeito e completo. Pedro falou assim a nosso Senhor: "Senhor, tu sabes tudo" (Jo 21.17). O próprio Cristo disse: "Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11.27; cf. Jo 10.15).19

Jesus agora está presente em todos os lugares (Mt 18.20), e é imutável (Hb 13.8). Ele compartilha este títu­lo com o Pai: "o Primeiro e o Último" (Ap 1.17; 22.13). Jesus é o nosso Redentor e Salvador (Jo 3.16,17; Hb 9.28; 1 Jo 2.2), nossa Vida e Luz (Jo 1.4), nosso Pastor (Jo 10.14; 1 Pe 5.4), aquele que nos justifica (Rm 5.1), e que virá em breve como "REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES" (Ap 19.16). Jesus é a Verdade (Jo 14.6) e o Consolador, cujo conforto e ajuda transbordam em nossa vida (2 Co 1.5). Isaías também o chama nosso "Conse­lheiro" (Is 9.6), e Ele é a Rocha (Rm 9.33; 1 Co 10.4). Ele é santo (Lc 1.35) e habita naqueles que lhe invocam o nome (Rm 10.9,10; Ef 3.17).

Tudo quanto se pode dizer a respeito de Deus Pai, tam­bém pode ser dito a respeito de Jesus Cristo. "Em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2.9). "Cristo... é sobre todos, Deus bendito eternamente" (Rm 9.5). Jesus falou de sua plena igualdade com o Pai: "Quem me vê a mim vê o Pai... estou no Pai, e o Pai, em mim" (Jo 14.9-11).

Jesus reivindicava plena divindade para o Espírito Santo: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre" (Jo 14-16).20 Ao chamar o Espírito Santo allon parakleton ("outro ajudador do mesmo tipo que Ele mesmo"),21 Jesus afirmou que tudo quanto pode ser afirmado a respeito de sua natureza pode ser dito a respeito do Espírito Santo. Por isso, a Bíblia dá testemunho da divindade do Espírito Santo como a Terceira Pessoa da Trindade.

O Salmo 104.30 revela o Espírito Santo como o Criador: "Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra". Pedro se refere a Ele como Deus (At 5.3,4), e o autor da Epístola aos Hebreus chama-o "Espírito eterno" (Hb 9.14).

A exemplo de Deus, o Espírito Santo possui os atributos da Deidade. Ele tem conhecimento de todas as coisas: "O Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus... Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" (1 Co 2.10,11). Ele está presente em todos os lugares (SI 139.7,8). Embora o Espírito Santo distribua dons entre os cristãos, Ele mesmo permanece sendo "um só" (1 Co 12.11); Ele é constante na sua natureza. Ele é a Verdade (Jo 15.26; 16.13; 1 Jo 5.6). Ele é o Autor da Vida (Jo 3.3-6; Rm 8.10) mediante o renascimento e a renovação (Tt 3.5) e nos sela para o dia da redenção (Ef 4.30).

O Pai e nosso Santificador (1 Ts 5.23), Jesus Cristo é nosso Santificador (1 Co 1.2), e o Espírito Santo é nosso Santificador (Rm 15.16). O Espírito Santo é nosso "Conse­lheiro" (Jo 14.16,26; 15.26), e habita naqueles que o temem (Jo 14.17; 1 Co 3.16,17; 6.19; 2 Co 6.16). Em Isaías 6.8-10, o profeta indica que Deus está falando, e Paulo atribui a mesma passagem ao Espírito Santo (At 28.25,26). No que tange a isso, João Calvino observa: "Realmente, onde os profetas usualmente dizem que as palavras que pronunciam são as do Senhor dos Exércitos, Cristo e os apóstolos as atribuem ao Espírito Santo [cf. 2 Pe 1.21]". Calvino conclui: "Segue-se, portanto, que quem é o autor preeminente das profecias é verdadeiramente Jeová [Yahweh]".22

"O conceito do Deus Trino e Uno acha-se somente na tradição judaico-cristã".23 Esse conceito não surgiu mediante a especulação dos sábios deste mundo, mas através da reve­lação outorgada passo a passo na Palavra de Deus. Em todos os escritos dos apóstolos, a Trindade é implícita e tomada como certa ( Ef 1.1-14; 1 Pe 1.2). Fica claro que o Pai, o Filho e o Espírito Santo, existem eternamente como três Pessoas distintas, mas as Escrituras também revelam a uni­dade24 dos três membros da Deidade.25

As Pessoas da Trindade têm vontades separadas, porém nunca conflitantes (Lc 22.42; 1 Co 12.11). O Pai fala ao Filho, empregando o pronome da segunda pessoa do singu­lar: "Tu és meu Filho amado; em ti me tenho comprazido" (Lc 3.22). Jesus se oferece ao Pai pelo Espírito (Hb 9.14). Declara que veio "não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (Jo 6.38).

O nascimento virginal de Jesus Cristo revela o interrelacionamento entre os três membros da Trindade. O relato de Lucas diz: "E, respondendo o anjo, disse-lhe: Des­cerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lc 1.35).

O único Deus é revelado como a Trindade na ocasião do batismo de Jesus Cristo. O Filho subiu das águas. O Espírito Santo desceu como pomba. O Pai falou dos Céus (Mt 3.16,17). Por ocasião da criação, a Bíblia menciona o envolvimento do Espírito (Gn 1.2). O autor da Epístola aos Hebreus, porém, declara explicitamente que o Pai é o Criador (Hb 1.2), e João demonstra que a criação foi realizada "por meio do"26 Filho (Jo 1.3; Ap 3.14). Quando o apóstolo Paulo anuncia aos atenienses que Deus "fez o mundo e tudo que nele há" (At 17.24), a única conclusão a que podemos razoavelmente chegar (juntamente com Atanásio) é que Deus é "um só Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade".

A ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos é outro exemplo notável do relacionamento dentro da Deidade Trina e Una na redenção. Paulo declara que o Pai de Jesus Cristo ressuscitou nosso Senhor dentre os mortos (Rm 1.4; cf. 2 Co 1.3). Jesus, contudo, declarou enfaticamente que ressuscita­ria seu próprio corpo da sepultura na glória da ressurreição (Jo 2.19-21). Noutro texto, Paulo declara que Deus, medi­ante o Espírito Santo, ressuscitou Cristo dentre os mortos (Rm 8.11; cf. Rm 1.4). Lucas coroa teologicamente a orto­doxia trinitariana ao registrar a proclamação do apóstolo Paulo aos atenienses de que o único Deus ressuscitou a Cristo dentre os mortos (At 17.30,31).

Jesus coloca os três membros da Deidade no mesmo plano ao ordenar aos seus discípulos: "Ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28.19).

O apóstolo Paulo, judeu monoteísta treinado pelo gran­de erudito rabínico Gamaliel, hebreu de hebreus; segundo a lei, fariseu (Fp 3.5), deu o carimbo definitivo à teologia trinitariana, conforme revela a sua saudação à igreja em Corinto: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos" (2 Co 13.14).27 Os dados oferecidos pela Bíblia levam-nos decidi­damente à conclusão de que, dentro da natureza do único Deus verdadeiro, há três Pessoas, sendo que cada uma é co-eterna, co-igual e co-existente.

O teólogo ortodoxo subordina humildemente os seus pensamentos sobre a teologia trinitariana aos dados revela­dos na Palavra de Deus de maneira bem semelhante ao físico quântico ao formular a teoria paradoxal das partículas de ondas:

Os físicos quânticos concordam entre si que as entidades subatômicas são uma mistura de propriedades de ondas (W), de propriedades de partículas (P), e de propriedades quânticas (h). Os elétrons de alta velocidade, ao serem atirados através de um filme metálico, ou de cristal de níquel (como raios catódicos rápidos ou até mesmo como raios-B), difratam como raios-X. Em princípio, o raio-B é igual à luz solar empregada numa experiência de dupla ranhura ou biprísmica. A difração é um critério de comportamento semelhante a raios nas subs­tâncias; toda a teoria clássica das ondas baseia-se nisso. Além desse comportamento, porém, há muito tempo que os elétrons vêm sendo considerados partículas com carga elétrica. Um campo magnético transversal defletirá um feixe de elétrons e seu padrão de difração. Somente as partículas comportam-se dessa maneira; toda a teoria eletromagnética depende disso. Para explicar todas as evidências, os elétrons devem ser tanto partículas quando ondulatórios [grifos nossos]. Um elétron é um Pwh.28

A analogia entre a Trindade e o Pwh ilustra muito bem as precauções preliminares desse capítulo, ou seja: embora o teólogo sempre deva esforçar-se por conseguir a racionalidade na formulação teológica, ele também deve preferir a revela­ção às restrições finitas da lógica humana. A Escritura, e tão­ somente ela, é o ponto de partida para a teologia da Igreja Cristã.

A Santíssima Trindade - Parte II

 

Evidências Bíblicas para a Doutrina


O Antigo Testamento

Deus, no Antigo Testamento, é um só Deus, que se revela pelos seus nomes, pelos seus atributos e pelos seus atos.9 Mesmo assim, o Antigo Testamento lança alguma luz sobre a pluralidade (uma distinção de Pessoas) na Deidade: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa se­melhança" (Gn 1.26).10 Que Deus não poderia estar conver­sando com anjos, ou com outros seres não-identificados, fica evidente no versículo 27 que se refere à criação do homem "à imagem de Deus". O contexto indica uma comunicação interpessoal divina, que requer uma unidade de Pessoas na Deidade.

Outras distinções pessoais na Deidade são reveladas nos textos que se referem ao "anjo do SENHOR" (hb. Yahweh). Esse anjo é distinguido de outros anjos. E pessoalmente identificado com Javé e, ao mesmo tempo, distinguido dEle (Gn 16.7-13; 18.1-21; 19.1-28; 32.24-30. Jacó diz: "Tenho visto a Deus face a face", com referência ao anjo do Senhor). Em Isaías 48.16; 61.1; e 63.9,10, o Messias fala. Numa oca­sião, Ele se identifica com Deus e o Espírito em união pessoal como os três membros da Deidade. Mas noutra ocasião, o Messias continua (ainda falando na primeira pessoa) a dis­tinguir-se de Deus e do Espírito.

Zacarias lança muita luz sobre o assunto ao falar, em nome de Deus, a respeito da crucificação do Messias: "E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigénito; e chorarão amargamen­te por ele, como se chora amargamente pelo primogênito" (Zc 12.10). Fica claro que o único Deus verdadeiro está falando na primeira pessoa ("mim") com referência a ter sido "traspassado", mas Ele mesmo faz a mudança grama­tical da primeira para a terceira pessoa ("ele") com rela­ção aos sofrimentos do Messias pelo fato de ter sido "tras­passado". A revelação da pluralidade na Deidade fica bem evidente nesse texto bíblico.

Assim saímos das sombras e prefigurações do Antigo Testamento para a luz maior da revelação no Novo Testa­mento.