Logos
João 1.1 apresenta Cristo mediante o termo grego logos, que significa "palavra", "demonstração", "mensagem", "declaração" ou "o ato da fala". Mas Oscar Cullman aponta a importância de se reconhecer que, em João 1, logos tem um significado específico: é descrito como uma hypostasis (Hb 1.3), uma existência distinta e pessoal de um ser real e específico.29 João 1.1 demonstra que "o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" são duas expressões simultaneamente verídicas.30 Isto significa jamais ter havido um período em que o Logos não existisse juntamente com o Pai.31
João passa, então, a demonstrar o Verbo atuante na criação. Gênesis 1.1 nos ensina que Deus criou o mundo. João 1.3 especifica que o Senhor Jesus Cristo, no seu estado pré-encarnado, fez a obra da criação, executando a vontade e o propósito do Pai.
Descobrimos também que é no Verbo que a vida se encontra. João 1.4 diz: "Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens". Porque Jesus é o referencial da vida, o único lugar onde ela pode ser conquistada. E aqui se descreve a existência de uma qualidade de vida: a vida eterna. Esta espécie de vida está disponível em Deus, pelo seu poder vivificante através do Verbo vivo. Somente obtemos a vida eterna como a vida de Cristo em nós.
O fato de não ter o mundo compreendido o Logos, indica-o João 1.5: "A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam". Na continuação, João Batista aparece como testemunha enviada daquela Luz. Mas queremos focalizar a nossa atenção neste ponto: "Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo, estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não o conheceu" (1.9,10). O Criador do mundo, a segunda Pessoa da Trindade, Deus Filho, estava aqui no mundo, mas este não o reconheceu. O versículo seguinte é mais específico: "Veio para o que era seu [seu próprio lugar, a Terra que criara], e os seus [seu próprio povo, Israel] não o receberam" (1.11).
Os herdeiros da aliança, os descendentes físicos de Abraão, não o receberam. Este tema é destaque e percorre todo o Evangelho de João: a rejeição de Jesus. Quando Jesus pregava, alguns judeus zombavam. Quando Jesus disse: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se", os judeus, na sua incredulidade, retrucaram: "Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?" Então Jesus declarou: "Antes que Abraão existisse, eu sou" (Jo 8.57,58). O tempo presente do verbo, "sou", indica existência linear. Antes que Abraão fosse, o Filho já é.
Embora muitos rejeitassem a mensagem, alguns nasceram de Deus. Em João 1.12 lemos: "Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome". Em outras palavras, Jesus estava redefinindo toda a realidade de alguém tornar-se filho de Deus. Até aquele momento, a pessoa precisava nascer especificamente no povo de Israel, chamado segundo a aliança (ou pelo menos afiliar-se a ele), para ter aquela oportunidade. João, porém, enfatiza que a mensagem espiritual, o Evangelho poderoso, chegara às pessoas, e que elas haviam recebido Jesus, o Logos. Recebê-lo importava em obter o direito ou autoridade de se tornar filho de Deus. Alguns dos que o receberam eram judeus, e outros eram gentios. Jesus derrubou o muro divisório e franqueou a salvação a todos os que desejassem chegar a Ele e recebê-lo pela fé (1.13).
A verdade essencial a respeito do Logos ora descrito, vê-se em João 1.14: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós". Aqui o termo logos é aproveitado para descrever Jesus Cristo, mas a realidade da sua Pessoa vai além do que abrange o sentido secular do conceito. Para os antigos gregos devotados à filosofia, um logos feito carne seria uma impossibilidade. Por outro lado, para os que crerem no Filho de Deus, um logos na carne é a chave para se entender a encarnação. E é exatamente isto que a encarnação significa: o Logos preexistente tomou sobre si a carne humana e andou entre nós.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA STANLEY M. HORTON
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