sábado, 26 de setembro de 2020

A Santíssima Trindade - Parte I

 

Kerry D. McRoberts


O Pai incriado, o Filho incriado: o Espírito Santo incriado.

O Pai incomensurável, o Filho incomensurável: o Espíri­to Santo incomensurável.

O Pai eterno, o Filho eterno: o Espírito Santo eterno.

E, mesmo assim, não são três eternos: mas um só eterno.1

A Trindade é um mistério. A aceitação reverente do que não é revelado nas Sagradas Escrituras faz-se necessário an­tes de se perguntar a respeito de sua natureza. A glória ilimitada de Deus deve ser uma forma de nos conscientizar com respeito à nossa insignificância em contraste com aquEle que é "sublime e exaltado".

Nosso reconhecimento dos mistérios de Deus, especial­mente da Trindade, exige que abandonemos a razão? Nada disso. Na Bíblia, de fato, há muitos mistérios, mas "o cristia­nismo, como 'religião revelada', centraliza-se na revelação e a revelação (segundo sua própria definição) torna manifes­to em vez de ocultar":2

A razão se vê diante de uma pedra de tropeço quando confrontada pela natureza paradoxal da doutrina trinitariana. "Mas", asseverou Martinho Lutero, de modo enérgico, "pos­to que se baseie claramente nas Escrituras, a razão precisa conservar-se em silêncio sobre o assunto; devemos tão-so­mente crer".3

Por isso, o papel da razão é o de auxiliar, e nunca de dominar (atitude racionalista), a entender as Escrituras, especialmente no tocante à formulação da doutrina da Trindade.4 Não estamos, pois, tentando explicar Deus, mas, sim, considerar as evidências históricas que estabelecem a identi­dade de Jesus como homem e também como Deus (em virtude dos seus atos milagrosos e do seu caráter divino) e, ainda, "incorporar a verdade que Jesus tornou válida no que diz respeito ao seu relacionamento eterno com Deus Pai e com Deus Espírito Santo".5

Historicamente, a Igreja formulou a doutrina da Trinda­de em razão do grande debate a respeito do relacionamento entre Jesus de Nazaré e o Pai. Três Pessoas distintas - o Pai, o Filho e o Espírito Santo - são manifestadas nas Escrituras como Deus, ao passo que a própria Bíblia sustenta com tenacidade o Shema judaico: "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (Dt 6.4).6

A conclusão, baseada nas Escrituras, é que o Deus da Bíblia é (nas palavras do Credo Atanasiano) "um só Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade". Isso soa irracional? Semelhante acusação contra a doutrina da Trindade pode ser, por si mesma, classificada de irracional: "Irracional é suprimir a evidência bíblica em favor da Trindade para favo­recer a Unidade, ou a evidência em favor da Unidade para favorecer a Trindade".7 "Nossos dados devem ter precedên­cia sobre nossos modelos - ou, melhor, nossos modelos de­vem refletir de modo sensível a gama inteira dos dados".8 Por isso, nosso olhar metodológico deve estar baseado na Bíblia no que diz respeito à relação tênue entre a unidade e a trindade para não polarizarmos a doutrina da Trindade num dos dois extremos: a supressão das evidências em favor da unidade (o que resultaria no unitarianismo, ou seja: que reconhece em Deus somente uma única pessoa) ou o abuso das evidências em favor de triunidade (o que resultaria no triteísmo - três deuses separados).

Uma análise objetiva dos dados bíblicos no tocante ao relacionamento entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, revela que essa grandiosa doutrina não é uma noção abstrata, mas, na realidade, uma verdade revelada. Por isso, antes de consi­derarmos o desenvolvimento histórico e a formulação da teologia trinitariana, examinaremos as evidências bíblicas nas quais a doutrina se fundamenta.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA STANLEY M. HORTON


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